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27 Julho, 2021

Conservação do tartaranhão-caçador reforçada com projeto que junta produtores de cereais e agentes de proteção da natureza

Conservação do tartaranhão-caçador reforçada com projeto que junta produtores de cereais e agentes de proteção da natureza

Crias de tartaranhão-caçador. Still de vídeo Gonçalo Mota/Palombar.

A conservação do tartaranhão-caçador (Circus pygargus), também denominado por águia-caçadeira, ganhou um novo reforço com a criação de um projeto, lançado publicamente em julho de 2021, que junta produtores nacionais de cereais e agentes de proteção da natureza com o objetivo de salvar esta espécie de ave de rapina estepária em risco de extinção em Portugal.

O projeto tem como promotores o Clube de Produtores Continente (CPC), a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO/BIOPOLIS) da Universidade do Porto. Conta ainda com a colaboração do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Um dos seus principais propósitos é valorizar o contributo das searas de trigo nacionais para a promoção de biodiversidade de aves, incluindo a de espécies ameaçadas como o Circus pygargus. O projeto arrancou com foco de intervenção na região do Alentejo.

Os agricultores e proprietários de terrenos estão já a ajudar ativamente na identificação das colónias destas aves, que nidificam em campos cerealíferos, enviando ao CIBIO/BIOPOLIS e ao ICNF informações sobre os avistamentos das aves, o número de animais e, sempre que possível, o sexo dos mesmos, além de implementarem voluntariamente medidas de proteção dos ninhos e crias (delimitando o espaço em que estes se encontram, para que não haja atividade de máquinas agrícolas e instalando proteções anti predadores, por exemplo). Até ao momento já foram acompanhadas 13 ceifas de 26 produtores nacionais para implementar estas medidas.

A organização não governamental de ambiente Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural considera que este é um projeto fundamental para garantir a conservação do tartaranhão-caçador no território nacional. Os promotores deste projeto, em colaboração e articulação com a Palombar, que tem igualmente desenvolvido trabalhos de proteção desta rapina no Nordeste Transmontano, estão a trabalhar para promover a conservação da espécie nas suas principais zonas de ocorrência, o que permitirá homogeneizar as ações no terreno, a partilha e a discussão de resultados, e promover a sua salvaguarda de forma abrangente e coordenada em todo o país.

Palombar arrancou em 2020 com ações de proteção do tartaranhão-caçador no Nordeste Transmontano

Em 2020, a Palombar arrancou com ações de proteção e conservação do tartaranhão-caçador no Nordeste Transmontano, mais especificamente no Planalto Mirandês, em estreita colaboração com os agricultores locais.

Desde então, e também enquadrado em ações do seu projeto "Reconecta-te à Natureza - as aves fazem mais do que cantar”, a Palombar tem implementado medidas no terreno para conservar a espécie, tendo já protegido, no período 2020-2021, cinco ninhos de tartaranhão-caçador e anilhado 18 indivíduos, incluindo crias e adultos. A organização está igualmente a realizar um censo da espécie na região. No âmbito daquele projeto, a Palombar produziu ainda o vídeo “Proteger a rapina das searas”, que sensibiliza para a importância de proteger o tartaranhão-caçador.

Ninho de tartaranhão-caçador protegido em ações realizadas pela Palombar. Fotografia Palombar.


O tartaranhão-caçador é uma rapina migradora que tem um estatuto de ameaça “Em perigo” de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e as suas populações têm registado um declínio continuado no território nacional. Os casais nidificantes desta espécie no país representam cerca de 13 por cento da população europeia (excluindo a Rússia). Esta é uma espécie de conservação prioritária em Portugal e que está protegida através da transposição para a legislação nacional da Diretiva Aves da União Europeia, e das Convenções de Berna, de Bona e de Washington. A região Nordeste do país regista um efetivo populacional relevante de tartaranhão-caçador e, tendo em conta esta realidade, a Palombar tem desenvolvido ações dirigidas para esta espécie com o objetivo de monitorizar as suas populações e detetar casais e ninhos existentes no território, sobretudo no Planalto Mirandês.

Para que seja possível cumprir os dois principais objetivos de conservação do tartaranhão-caçador em Portugal: manter/aumentar a população nidificante e conservar as zonas de nidificação e alimentação, é essencial a implementação de medidas agroambientais e planos de gestão do território e da espécie que envolvam as comunidades locais, bem como a realização de censos nacionais e monitorização da população, de forma a quantificar os seus reais efetivos e identificar os locais onde nidificam, assim como avaliar a evolução das suas populações ao longo dos próximos anos.

Tartaranhão-caçador: o exímio predador

O tartaranhão-caçador ou águia-caçadeira, a mais pequena das águias europeias, é uma espécie exímia na arte da caça e da predação e não é por acaso que os adjetivos “caçador” e “caçadeira” integram os seus nomes comuns. Esta rapina apresenta movimentos ágeis, rápidos, silenciosos e precisos e tem, por isso, uma grande habilidade para caçar presas vivas de pequenas dimensões. O tartaranhão-caçador é uma espécie nidificante estival, pelo que só está presente no território nacional a partir de meados de março até setembro. Esta espécie passa o inverno em África.


Fêmea de tartaranhão-caçador. Still de vídeo Gonçalo Mota/Palombar.


O macho apresenta uma plumagem cinzento-azulada, asas muito compridas e estreitas, corpo esguio e cauda comprida e estreita, de coloração negra. Em voo, distingue-se uma banda preta nas penas secundárias. A fêmea e os juvenis apresentam uma plumagem de tons castanhos-arruivados.

O seu habitat de eleição são áreas predominantemente desarborizadas, com solos secos ou húmidos e associadas a zonas agrícolas, principalmente culturas cerealíferas, arvenses e forrageiras. Reproduz-se em zonas seminaturais caracterizados pela cerealicultura extensiva, embora se possa reproduzir também nos planaltos serranos do centro-leste e norte e ainda em zonas costeiras. Na região mediterrânica, estima-se que 90% dos casais nidificam no interior de searas.

O tartaranhão-caçador alimenta-se essencialmente de pequenas presas: aves, pequenos mamíferos, insetos e lagartos. Apesar de ser considerado um predador generalista, a sua dieta pode apresentar especificidade a nível local na seleção de presas.

Os principais fatores de ameaça para esta espécie são: atividade da ceifa, intensificação da agricultura, abandono agrícola, utilização de agroquímicos, florestação das terras agrícolas, expansão de cultivos lenhosos, perturbação provocada pelas atividades humanas, abate ilegal, pilhagem e destruição de ninhos, e aumento de predadores de ovos e crias.

A conservação das populações de tartaranhão-caçador promove o equilíbrio dos ecossistemas e beneficia diretamente os agricultores e as suas culturas, pois esta espécie é predadora de pequenos mamíferos roedores e insetos consumidores de sementes e vegetais diversos e contribui para travar o aumento excessivo das suas populações.