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12 Outubro, 2021

Berrão de Ramilo: primeiras escavações arqueológicas sugerem que escultura era objeto de ritualização

Berrão de Ramilo: primeiras escavações arqueológicas sugerem que escultura era objeto de ritualização

Berrão de Ramilo. Fotografia Mónica Salgado.

As primeiras escavações arqueológicas realizadas no local onde foi encontrado, em 2020, o Berrão de Ramilo - uma escultura zoomórfica esculpida em pedra granítica e que representa um javali macho -, na aldeia de Duas Igrejas, no concelho de Miranda do Douro, sugerem que, em princípio, a escultura terá sido ali colocada intencionalmente como objeto de ritualização, ou seja, associada a rituais.

Segundo explicou Mónica Salgado, uma das arqueólogas responsáveis pelas escavações, o berrão terá sido ali colocado "de forma a culminar com a adoração/representação deste tipo de esculturas por parte dos povos invasores, neste caso, os romanos". Contudo, para já, esta é apenas uma das hipóteses possíveis. Durante os trabalhos arqueológicos, foram também encontrados, no local, fragmentos de cerâmica que serão agora analisados de forma mais aprofundada.

As escavações arqueológicas em Duas Igrejas foram realizadas no âmbito do 59.º Campo de Trabalho Voluntário Internacional (CTVI) organizado pela Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural entre os dias 16 e 27 de agosto, em parceria com a associação francesa Rempart, que recrutou voluntários/as para integrar o Campo de Trabalho, tendo contado também com o apoio da Câmara Municipal de Miranda do Douro e da Junta de Freguesia de Duas Igrejas.

Neste CTVI, participaram dez voluntários, alguns dos quais recrutados para este trabalho pela associação francesa Rempart e outros da entidade italiana Cesc Project, ambas parceiras da Palombar. Durante o CTVI, além de colaborarem ativamente nos trabalhos arqueológicos, os voluntários também tiveram a oportunidade de conhecer a riqueza paisagística, patrimonial, cultural e humana da região do Planalto Mirandês.


Local das escavações arqueológicas. Fotografia Palombar.


A Palombar considera que esta prospeção arqueológica representa um grande contributo para o estudo e conhecimento arqueológicos sobre o Planalto Mirandês e quer ser um ator ativo e interveniente nesta área de conhecimento.

O Berrão de Ramilo, descoberto ocasionalmente por um habitante local numa zona agrícola em Duas Igrejas, terá sido esculpido na barreira cronológica estabelecida entre os séculos IV e I a.C. Os trabalhos arqueológicos realizados durante este CTVI, sob a coordenação dos arqueólogos Mónica Salgado e Francisco Manuel Reimão Queiroga, tiveram como objetivo principal a avaliação do contexto no qual se encontraria o berrão na zona onde foi localizado.



Fragmentos de cerâmica encontrados durante as escavações. Fotografia Mónica Salgado.


Para que serviam os berrões?


De acordo com a literatura científica, os berrões poderiam servir como marcos territoriais, pedras terminais de territórios ou regiões da Vetonia, o que não é o caso de Trás-os-Montes; ser utilizados como pontos de referência indicadores dos caminhos dos rebanhos em transumância, não se descartando a hipótese de serem objetos de culto e rituais dedicados à proteção e exploração de rebanhos e representar monumentos comemorativos. Poderiam ainda representar monumentos sepulcrais, pois alguns apresentam epígrafes latinas e serem elementos de crenças mágico-religiosas relacionadas com os rituais de proteção e prosperidade dos rebanhos. Também no sítio Martiherrero, em Espanha, foram já identificados quatro berrões associados a cistas prismáticas de incineração num contexto da época romana. As esculturas cobriam as cupae, que continham os restos do enterramento.

Berrão de Ramilo. Fotografia Mónica Salgado.